Sensação de exaustão completa no trabalho, inferioridade em relação aos demais colegas, isolamento, angústia para ir trabalhar e a impressão de que nada do que você faz é satisfatório. O conjunto de sintomas como esses tem nome: síndrome de burnout.
O termo em inglês indica esgotamento e está associado a um estado de estresse crônico elevado misturado à depressão. Há pesquisadores, porém, que consideram burnout apenas uma forma de depressão no trabalho e não uma doença distinta.
Seja uma doença específica ou uma forma de depressão, os efeito desse mal fazem a pessoa “esgotada” sofrer de ansiedade, podendo levá-la ao isolamento, à perda de amigos, ao afastamento da família, a pedidos de demissão ou, antes, à perda do emprego.
A exaustão especificamente relacionada ao ambiente de trabalho se tornou motivo de preocupação no mundo todo e, não por acaso, passou a constar no documento de referência de doenças usado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o ICD-10, ainda na década de 1990. Nele, o burnout se enquadra na categoria de “problemas relacionados a dificuldades de gestão da vida”. Sua definição é breve e direta: estado de exaustão vital.
Ainda segundo a OMS, problemas associados à saúde mental no trabalho levam a uma queda de produtividade que resulta na perda de US$ 1 trilhão por ano no mundo.
No Brasil, segundo estudo da Escola de Economia de Londres de 2016, a depressão no trabalho faz o país perder US$ 63,3 bilhões anualmente, o que faz dele o segundo pior do ranking, atrás apenas dos EUA, onde o estresse no trabalho é considerado um problema de saúde pública.
O prejuízo não está ligado somente à queda de produtividade – problema chamado de “presenteísmo”, quando a pessoa esgotada está presente, mas mentalmente incapaz de realizar suas funções –, mas à ausência do funcionário que se afasta do trabalho por licença médica motivada por depressão, ou “absenteísmo”. Só em 2016, foram 75,3 mil afastamentos desse tipo registrados pela Previdência Social no Brasil.
Embora inicialmente estivesse muito associada a campos profissionais que experimentam estresse elevado diariamente, como médicos, policiais e bombeiros, o esgotamento profissional atualmente pode ser identificado em qualquer área.
No Brasil, a Associação Internacional de Gestão de Estresse estima que 32% dos profissionais sofram com esse esgotamento no ambiente de trabalho.
Como identificar e reagir ao burnout
O burnout ou a depressão crônica no trabalho se refere a quadros críticos de estresse acentuado que geram consequências negativas para o profissional e, em alguns casos, para a empresa como um todo. Saber como identificar o problema tão logo ele se apresente é fundamental.
No caso de sintomas que envolvam cansaço extremo, angústia, ansiedade, problemas de sono, irritabilidade, distanciamento e sensação de frustração constante, o indicado é sempre, em primeiro lugar, buscar ajuda profissional com um psicológo ou psiquiatra.
Dentre os diferentes métodos de se identificar o problema, está um questionário desenvolvido por um grupo liderado pela psicóloga americana Christina Maslach. Chamado MBI (Maslasch Burnout Inventory), o documento propõe 22 itens que servem para se identificar o grau de burnout em uma pessoa ou grupo em três dimensões. São elas:
- Exaustão emocional: o profissional não tem “mais capacidade de dar mais de si em um nível psicológico”, vive sem esperança e com baixa autoestima
- Despersonalização: elemento ligado a uma perda de sensibilidade e à incorporação de uma atitude negativa sobre o trabalho e as relações
- Satisfação pessoal: relaciona-se a uma tendência de o profissional se avaliar negativamente o tempo todo; ele se sente infeliz e insatisfeito com seu trabalho.
Embora seja entendido como muito semelhante a depressão – ponto ainda não pacífico entre pesquisadores -, o burnout pode ser tratado de maneira semelhante. Ou seja, com acompanhamento profissional que deve avaliar a necessidade de afastar temporariamente o paciente da rotina de trabalho. E, potencialmente, o uso de um medicamento específico.
Além disso, especialistas recomendam a adoção de práticas fora do trabalho que deem satisfação e prazer, como um esporte ou ainda um hobby qualquer. Foi o que indicou a psiquiatra Roberta Rossi Grudtner, em entrevista ao jornal Zero Hora, em junho de 2017.
“Quando as pessoas têm um mecanismo de defesa além do trabalho, um estilo de vida saudável, um exercício físico de que goste, isso pode ajudar. Em alguns casos, a espiritualidade auxilia na resiliência.”
Além do profissional afetado pelo esgotamento, as empresas podem também adequar o ambiente e a cultura de trabalho visando prevenir casos do tipo. Em entrevista ao jornal The New York Times em 2017, a psicóloga Christina Maslach citou como exemplo a “glorificação do estresse” existente na cultura americana.
“Essa é outra coisa que leva as pessoas a se tornarem caladas e a não falarem sobre alguns dos estressores que eles estão enfrentando porque elas não querem ser vistas como pessoas que não estão dando o seu melhor.”