Trabalhadores que sofrem com enxaqueca perdem, em média, uma semana de trabalho por mês, aponta a pesquisa My Migraine Voice, realizada pela Novartis e a European Migraine and Headache Alliance (EMHA). Os resultados mostraram que a enxaqueca tem grande impacto laboral, incluindo redução da produtividade e aumento do absenteísmo, caracterizado por padrão habitual de ausências no trabalho, seja por falta ou atraso.
De acordo com a pesquisa, as pessoas que sofrem com a enxaqueca chegam a perder cerca de uma semana por mês em decorrência do problema. Apesar disso, apenas 18% das empresas oferecem apoio ao funcionário. Esse foi o maior estudo global de pacientes com enxaqueca, envolvendo mais de 11.266 pessoas de 31 países, incluindo o Brasil.
Os dados foram coletados entre setembro de 2017 e fevereiro de 2018 através de um questionário on-line. As perguntas avaliaram o impacto social, econômico e emocional da enxaqueca, assim como a convivência das pessoas com a doença e de que maneira ela pode afetar o ambiente de trabalho.
O que causa a enxaqueca?
A enxaqueca é uma doença neurológica caracterizada por episódios recorrentes de dor de cabeça grave acompanhada de sintomas como náuseas e vômitos, sensibilidade à luz, cheiro e som, formigamento e dormências no corpo e alterações na visão, como pontos luminosos, escuros, linhas em ziguezague que antecedem ou acompanham as crises de dor.
Segundo Mário Peres, do Centro de Cefaleia São Paulo, as causas da enxaqueca são diversas, mas estão geralmente vinculadas a alterações nos neurotransmissores, na genética, nos hormonais ou no Peptídeo Relacionado com Gene da Calcitonina (CGRP, na sigla em inglês), uma molécula presente em todo o mundo, mas que, em alguns indivíduos, pode ser uma das responsáveis por deflagrar as crises.
A predisposição do indivíduo e fatores externos, como excesso de cafeína, por exemplo, também propiciam o aparecimento da enxaqueca, que pode se manifestar em duas formas: a crônica, caracterizada por quinze ou mais dias com dor durante o mês; e a episódica, em que as dores se manifestam menos de quinze vezes por mês.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a enxaqueca a sexta doença mais incapacitante do mundo; no Brasil, a versão crônica afeta cerca de 31 milhões de brasileiros, a maioria entre os 25 e 45 anos, faixa etária considerada o auge dos anos produtivos. O Ministério da Saúde informa que o índice de ocorrência no sexo feminino atinge os 25%, mais que o dobro da manifestação em homens. No entanto, depois dos 50 anos, a taxa costuma diminuir, especialmente nas mulheres.
Problemas no rendimento
A pesquisa revela que 60% dos trabalhadores afetados pela versão crônica da doença perdem, em média, uma semana de trabalho por mês; cerca de 37% deles informaram que convivem com a enxaqueca há dezesseis anos ou mais. Os dados ainda revelaram que a enxaqueca reduz a produtividade em 53%, número que sobe para 56% no caso de indivíduos cujo tratamento preventivo falhou mais de duas vezes. Entre os entrevistados, 90% disseram já ter utilizado pelo menos um tratamento preventivo e 80% precisaram alterá-lo uma ou mais vezes.
Peres diz que o stress no ambiente de trabalho pode ser fator desencadeante das crises, por isso, é preciso evitá-lo na medida do possível. “Muitas vezes existe a sobrecarga externa, do trabalho, e a interna, das próprias cobranças. O perfeccionismo é um traço muito comum dos pacientes com enxaqueca. As pessoas precisam avaliar os limites pessoais e não passar deles”, alerta. Caso não seja possível, a recomendação é buscar válvulas de escape para o stress, como formas de relaxamento que trabalhem corpo e mente.
Sem apoio
Apesar de ser um problema conhecido da população, assim como das empresas – 63% das pessoas afirmaram que os empregadores estão cientes de que os funcionários têm a doença –, o apoio recebido no trabalho não é o bastante (18%). O número é relativamente pequeno se considerarmos que 47% dos participantes trabalham em período integral, portanto, diante dos episódios de enxaqueca, eles podem perder até um dia inteiro de trabalho.
Essa ausência ainda gera outro problema: a estigmatização do funcionário, que é julgado – por colegas e chefes – por tirar licenças médicas devido à doença. De acordo com Peres, a falta de acolhimento também pode se tornar um fator agravante, questão que salienta a necessidade da conscientização e do apoio no local de trabalho.
Tratamentos atuais
Segundo Peres, atualmente, existem duas abordagens de tratamentos disponíveis no mercado: agudo e preventivo. No agudo, o objetivo é combater a dor no momento em que ela aparece com o uso de analgésicos e anti-inflamatórios (para combater as dores), ou de triptanos e ergotaminas (classes de medicamentos usada especificamente para tratar a enxaqueca).
No entanto, o principal tratamento e também o mais efetivo é o de caráter preventivo, já que reduz o número de crises. Alguns dos tratamentos mais comuns são o Botox – também usado em procedimentos estéticos –, além de orientações não farmacológicas, como realização de atividades físicas, psicoterapias, acupuntura e ioga.
Recentemente, o FDA aprovou o Aimovig, nome comercial do erenumabe, anticorpo monoclonal desenvolvido especificamente para localizar e bloquear os receptores de CGRP. De caráter preventivo, o novo tratamento é injetável e funciona de forma semelhante à da insulina para o diabetes, podendo ser aplicada pelo próprio paciente (na barriga, no braço ou na perna).
Desenvolvido pela farmacêutica Novartis, o medicamento foi disponibilizado para os pacientes americanos no fim de maio e custa cerca de 6.900 dólares (aproximadamente 28.000 reais) por ano. A medicação já foi aprovada também na Europa. No Brasil, a aprovação deve acontecer no primeiro semestre de 2019, devendo ser comercializada com o nome de Pasurta.
Novas alternativas
Além do ioga e da acupuntura, outra forma de medicina não medicamentosa útil para tratar a enxaqueca é a osteopatia, terapia manual que promove alívio imediato das dores. Apesar de ter sido criada no fim do século XIX, a técnica chegou ao Brasil apenas na década de 80, sendo reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) em 2001.
A osteopatia busca identificar a origem do problema, que pode ser neurológica, vascular, metabólica, referida (problema de uma região que dói em outra parte, como é o caso da sinusite), ou tensional (quando o músculo tensiona algumas áreas da cabeça, provocando dor), por exemplo, e trabalha a região detectada como ponto de partida da dor para tentar regularizar o organismo.
“Com estímulos manuais, o profissional consegue melhorar e otimizar a região para controlar a dor. Para o tratamento de cefaleias, que incluem a enxaqueca, a osteopatia consegue em 90% dos casos um alívio que varia de 70% a 100% da dor”, explica Rogério Queiroz, diretor-geral da Escuela da Osteopatia de Madrid e membro da Associação dos Osteopatas do Brasil. No entanto, a utilização desse método para o tratamento da enxaqueca – mesmo em casos de urgência – ainda é pouco conhecida pelo público.
Por ser uma especialidade da fisioterapia, quem determina a frequência das sessões é o próprio fisioterapeuta osteopata, ou seja, para a realização do tratamento, não é necessário recomendação médica, embora o tratamento conjunto seja normalmente a melhor opção para o paciente. As sessões podem começar semanais e, conforme o paciente demonstra uma melhora, elas podem se tornar quinzenais, mensais ou até semestrais.
Desde o ano passado, a osteopatia está disponível para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A medida faz parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). No Rio de Janeiro, a Escola de Osteopatia de Madrid, em parceria com o Hospital Gafree e Guinle, oferece à população atendimentos gratuitos.
(Fonte: Veja)