Um dos grandes mistérios da psicologia – e da vida adulta moderna – é entender como um trabalho que se restringe a passar horas sentado na frente de uma tela pode ser tão cansativo.
E sim, grande parte das pessoas que passam o dia mexendo pequenos músculos dos dedos e digitando em frente ao computador chegam em casa exaustas, simplesmente desejando ser engolidas pelo sofá.
Mas o que causa a fadiga mental? Apesar de não ter uma resposta exata para essa pergunta, o nosso corpo é capaz de mandar alguns sinais – e é importante que saibamos captá-los.
A fadiga mental é um processo de desgaste. Esse processo ocorre em função do estresse e do excesso de informações que o nosso cérebro recebe, principalmente. Em tempos de redes sociais, notificações e multi-telas, o ser humano vive soterrado de informações que invadem os sentidos diariamente, e nem sempre são informações imprescindíveis.
“Mesmo que não sejam importantes, essas informações desgastam a nossa atenção porque temos que lidar com vários estímulos diários. Então, é notório o aumento de casos de estresse e transtornos de ansiedade em função do modo de vida que o ser humano está tendo, sempre sobrecarregado”, explica a Luciana Tisser, psicóloga e especialista em neurociência, em entrevista ao HuffPost Brasil.
Uma hipótese é a de que esse processo de desgaste está ligado, sobretudo, ao nosso estoque de energia mental. Ao longo do dia, nos baseamos em um limite de recursos que nos fazem ter o que chamamos de “força de vontade” e “autocontrole”. Ou seja, disponibilizamos determinada energia para realizar nossas tarefas e metas. Quando esgotamos esse recurso, nos sentimos cansados.
Mas, de acordo com pesquisas, os psicólogo não estão tão seguros de que esse esgotamento de energia mental está somente ligado ao nosso autocontrole.
Por exemplo, o resultado de um estudo revelou que um cérebro focado e trabalhando para resolver um problema de matemática gasta praticamente o mesmo nível de energia que o cérebro em repouso. É um contingente muito menor do que o que gastamos para manter o nosso coração e outros órgãos em funcionamento.
Se temos energia disponível para realizarmos as tarefas, porque nos sentimos tão exaustos no fim do dia? A resposta pode estar na tensão que é criada quando perdemos interesse ou não estamos motivados o suficiente para realizar as atividades.
Em agosto, pesquisadores ingleses publicaram o artigo Por que o trabalho causa fadiga? Uma investigação em tempo real da fadiga e determinantes da fadiga em enfermeiros que trabalham em turnos de 12 horas (em tradução livre) em que analisaram a rotina de mais de 100 enfermeiras.
O principal ponto do estudo foi: o cansaço físico nem sempre era visto como um problema para as profissionais, mas, as enfermeiras que estavam menos propensas a se sentirem cansada também eram aquelas que se sentiam mais sob controle e recompensadas pelas tarefas. Ou seja, o fator motivação impactou nas percepção delas sobre o cansaço.
O que sentimos quando estamos mentalmente exaustos?
“É como se o nosso cérebro tivesse um limite e esse limite não estivesse sendo respeitado”, explica Luciana Tisser.
E aqui entra outro fator importante: a regulação do nosso sistema nervoso central é feita através do nosso sono. Nossos hormônios, inclusive o cortisol, que é o hormônio do estresse, são controlados enquanto nós dormimos. Mas o ser humano está cada vez com menos horas de sono e mais tarefas, e parece que não respeitamos nem mesmo o relógio biológico.
“A gente tem o ritmo circadiano, que é a pré-orientação do nosso corpo para cumprir os horários, como o adormecer. Quando começa a escurecer, o nosso corpo produz melatonina e vamos entrando em um processo de relaxamento para dormir. Mas o que a gente faz? Trabalhamos até tarde, no computador e no celular, e a luminosidade dessas telas é extremamente nociva, porque vai de encontro com o que o corpo está pedindo”, argumenta a psicóloga.
A especialista explica que é extremamente importante respeitar a fadiga mental e os sinais de estresse que o corpo oferece.
Esses sinais podem ser percebidos em 3 etapas: o nível de alerta, o de manutenção/resistência e o de exaustão. No nível de alerta é como se o corpo dissesse: “opa, alguma coisa não está bem”. O estado de resistência é exatamente quando a gente ignora esses sinais e diz que precisamos continuar em alerta a qualquer custo. A exaustão é quando a gente simplesmente entrega os pontos porque realmente a gente não dá mais conta.
“O corpo mostrou os sinais, mas o indivíduo não deu atenção. Inclusive, nesses processos a depressão pode ser desencadeada. E é uma depressão leve e silenciosa, mas que é tão nociva quanto outras depressões. É um processo em que a gente só se cobra e acha que não está rendendo tanto, que não vamos conseguir e que a gente percebe que existe um custo alto em conseguir dar conta de nossa rotina diária. As pessoas costumam negligenciar isso e é nesse sentido que os processos psicopatológicos vão aparecendo, quase sempre em decorrência desses primeiros sinais”, explica Tisser.
Entender sobre o que acaba com a nossa energia mental importa, pois quando estamos mentalmente exaustos, tendemos a estar mais dispersos e descuidados. Ainda, quanto mais aprendermos sobre a fadiga, mais chances temos de construir uma rotina equilibrada e prazerosa – inclusive no trabalho.
(Fonte: Huffington Post)