Qual é o amanhã que os Médicos do Trabalho podem esperar para especialidade? Quais são os principais desafios que devem ser enfrentados hoje, para ampliar o reconhecimento dos profissionais e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores?
Essas são algumas das perguntas que a programação científica do 17º Congresso Nacional da ANAMT busca responder. O evento, que acontece a cada três anos, será realizado dos dias 15 a 18 de maio de 2019, em Brasília, e terá como tema central “Valores Essenciais Frente às Transformações do Trabalho: Hoje e Amanhã”.
O Congresso possibilitará aos participantes se atualizarem sobre diferentes temas relacionados à especialidade, e a troca de experiências. “É uma oportunidade para o debate técnico-científico de temas atuais, que afetam o exercício da especialidade, enquanto espaço de educação continuada, e possibilita a troca de experiência e formação de redes de suporte entre os profissionais da área”, ressalta a especialista.
Algumas das palestras já confirmadas abordarão as mudanças no perfil do trabalho e no processo saúde-doença dos trabalhadores, as implicações da implementação do e-social para a especialidade e práticas bem sucedidas de gestão em saúde e segurança.
Segundo a diretora científica da Associação e coordenadora da comissão científica do evento, Dra. Elizabeth Dias, a escolha da capital federal para sediar o evento ocorre em um contexto de mudanças das lideranças governamentais, com repercussões sobre as politicas públicas para a área, que afetam o exercício da especialidade.
O Congresso reunirá especialistas nacionais e internacionais. Entre os participantes confirmados, estão Dr. William Buchta, Presidente do American College of Occupational and Environmental Medicine (ACOEM); Dra. Lucia Rotenberg, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Rio de Janeiro; Dr. Casey Chosewood, pesquisador do National Institute for Occupational Safety and Health (Niosh -USA); e Laís Abramo, diretora de Desenvolvimento Social da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) da Organização das Nações Unidas (ONU) e o Geneticista Dr. Sergio Danilo Pena pesquisador do Projeto Genoma e professor da UFMG .
Na oportunidade, também serão apresentadas as realizações da gestão 2016-2019 da Associação e ocorrerá a posse da nova Diretoria para o triênio 2019-2022.
Hora de estudar impactos e propor alternativas
Ainda de acordo com a Dra. Elizabeth Dias, o evento oportuniza o debate sobre as mudanças na legislação de proteção social em curso, entre elas, a Reforma Trabalhista e a revisão de benefícios por incapacidade laborativa, concedidos pela Previdência Social, que tem repercussões sobre o exercício da Medicina do Trabalho.
“É necessário nos preparar para acompanhar os efeitos e desdobramentos das mudanças em curso, e buscar construir, coletivamente, alternativas e soluções. A precarização dos vínculos de trabalho decorrentes da terceirização irrestrita e a reinserção no mercado de trabalho de trabalhadores que tiveram os benefício cessados, sem uma preparação prévia, constituem desafios que necessitam ser acompanhadas e desenvolvidas estratégias para lidar com essas mudanças”, afirma Elizabeth Dias. “Os médicos do trabalho têm papel importante nesses processos. Como o Médico do Trabalho vai receber este trabalhador e encaminha-lo ao novo postos de trabalho? Outra tendência no Brasil e no mundo e que também será abordada no Congresso será o teletrabalho – ou o home office, cada vez mais frequente em diversas ocupações. Muitas vezes, esse trabalhador se torna invisível dificultando as ações de promoção e proteção de sua saúde”.
A coordenadora da comissão científica do Congresso também explica que as mudanças nos processos produtivos em curso, mediadas pelas novas tecnologias, podem promover a intensificação do trabalho e aumentar o desgaste, o sofrimento e o adoecimento dos trabalhadores. E a legislação de proteção vigente não contempla essa realidade.
“A Dra. Lucia Rosenberg, que participará do Congresso, abordará justamente o entrelaçamento entre o uso do tempo de trabalho – trabalha-se cada vez mais, em qualquer lugar e o tempo todo – e a saúde física e mental e a vida social do trabalhador. Esta é uma tendência global, que precisa ser bem avaliada no Brasil em decorrência da configuração social, marcada por extrema desigualdade entre os grupos mais vulneráveis”, ressalta.