As pressões do trabalho e as jornadas extenuantes fazem com que os profissionais da Medicina deixem de cuidar da própria saúde. Isso pode levar a graves desgastes físicos e emocionais. Portanto, é comum que os médicos se descrevam como esgotados. Na realidade, muitos deles podem apresentar sintomas da chamada Síndrome de Burnout, mesmo que não saibam disso.
“Muitos médicos acabam indo trabalhar mesmo quando não estão bem, pois diferentemente de alguns trabalhos, o deles tem uma recompensa social. Para os médicos pode existir o reconhecimento, o status, outros benefícios além do dinheiro que se ganha. Então, abrir mão disso tudo e se afastar é ruim”, comenta o psiquiatra Daniel Barros, do Hospital das Clínicas da USP.
A expressão “Síndrome de Burnout” foi criada na década de 1970 para descrever um conjunto de reações de intenso desgaste físico e mental ocasionado pelo trabalho e caracterizado por exaustão, frustração e isolamento. Conforme o especialista, a condição é associada a profissões em que o relacionamento pessoal é intenso, mais especificamente, como naquelas que envolvem cuidados com a saúde. O termo em inglês “burnout” é usado para descrever uma sensação de “estar acabado”, de total esgotamento, ou de ter suas energias exauridas por completo.
Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, dois a cada cinco médicos americanos podem apresentar a Síndrome de Burnout. Entre as manifestações dessa condição, o médico da USP cita: exaustão emocional (falta de energia e entusiasmo), com fadiga crônica e sensação de cansaço durante o dia e até depois do trabalho; problemas para dormir; e incapacidade para manter o foco. A exaustão pode estar associada a sintomas físicos também, como dor nas costas e/ou na cabeça. Há ainda despersonalização (distanciamento/indiferença), quando há muita autocrítica, cinismo, falta de empatia e desilusão e sentimento de falha (incompetência), porque o trabalho supostamente não é valorizado.
Em partes, esses sintomas, quando intensos, podem ser responsáveis pelas altas taxas de suicídio registradas entre os médicos, em comparação com outras profissões. Segundo a Fundação Americana de Prevenção ao Suicídio, os médicos apresentam uma taxa de tentativa de se matar quase duas vezes maior do que a população em geral. As possíveis explicações para essas diferenças incluem a potencial relutância dos médicos em perceberem que necessitam de algum tipo de ajuda, ou uma possível dificuldade para identificar em si as graves manifestações da Síndrome de Burnout. A falta de identificação dos sintomas da síndrome impede o adequado manejo da condição, como mostra Daniel Barros, e a persistência desse profissional no mesmo ambiente e nas mesmas condições de trabalho tem o potencial para agravar os sintomas dessa síndrome.
“O desequilíbrio entre a atividade profissional e a capacidade do médico em suportar a carga de trabalho, associado à dificuldade do mesmo para repor a energia utilizada no seu dia a dia e que levam às manifestações de esgotamento físico e mental, vem sendo estudados por diversas instituições acadêmicas e serviços médicos ao redor do mundo. O melhor entendimento dessa condição pode gerar tanto benefícios diretos, como um tratamento mais adequado e em uma melhor qualidade de vida do médico, como indiretos, com a melhora do serviço médico prestado, redução do absenteísmo e aumento da efetividade, o que obviamente beneficiaria também ao paciente”, esclarece o psiquiatra.
(Fonte: Revista Encontro)