Quais devem ser os principais enfoques das empresas dispostas a adotar o conceito de Saúde Total do Trabalhador? Como melhorar as condições de trabalho em profissões mais expostas a acidentes e doenças relacionadas ao trabalho? Esses foram alguns dos temas abordados pelo Dr. Lewis Casey Chosewood, coordenador do programa para a Saúde Total do Trabalhador do Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional (NIOSH), agência do governo norte-americano responsável pela realização de pesquisas e recomendações para a prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.
O conceito de Total Worker Health é um conjunto de políticas, programas e práticas que integram a proteção contra riscos à saúde e à segurança no trabalho com a promoção de esforços preventivos contra lesões e doenças visando incrementar o bem-estar dos trabalhadores. Em termos simples, as organizações devem primeiro proteger os trabalhadores, mas podem avançar introduzindo políticas, programas e práticas que promovam a saúde no trabalho e fora dele. Se bem feito, o resultado seriam trabalhadores com maiores níveis de bem-estar, o que beneficiaria os trabalhadores diretamente e, por extensão, possivelmente também teria impacto nas organizações onde trabalham.
Como exemplo da forma que estas mudanças podem trazer à vida dos trabalhadores, Chosewood reforçou a importância que o trabalho tem na vida de um indivíduo. “O trabalho é muito mais importante do que acreditamos. Ele é um indicador importantíssimo para a nossa expectativa de vida e está associado à possibilidade de fazer atividades físicas, tempo disponível para a família e alimentação. A ocupação é central na nossa vida e influencia muitos mais fatores do que os imaginados”.
O descaso da população com as suas próprias condições de trabalho fica evidenciado em números, segundo o especialista. Nos Estados Unidos, as chances de uma pessoa morrer em função de uma doença relacionada ao trabalho é muito superior às chances de sofrer um atentado terrorista, por exemplo. No entanto, a preocupação com os dois aspectos é oposta à realidade, segundos pesquisas.
“Por isso tudo, o importante não é focar nas doenças dos trabalhadores, e sim nos trabalhos que mais adoecem trabalhadores. Sabemos, por exemplo, que agentes policiais, bombeiros e motoristas são alguns dos principais causadores de obesidade e possuem menor expectativa de vida”, explicou Chosewood.
É a partir que surge o conceito de Total Worker Health, que visa rever o ambiente de trabalho e relacionamento da ocupação com o trabalhador. O conceito objetiva uma compreensão holística dos fatores que contribuem para o bem-estar dos trabalhadores. As ações incluem o alinhamento da alta liderança e reunião de todos os responsáveis por programas de saúde no trabalho, uma avaliação organizacional da segurança, saúde e bem-estar do ambiente, escutar os trabalhadores e coordenar ações que perpassem todos os elementos organizacionais.
O resultado deste tipo de abordagem traz resultados efetivos por meio de ações que nem sempre são consideradas por uma empresa. Uma transportadora conseguiu reduzir o índice de obesidade entre seus motoristas a partir do fornecimento de refeições saudáveis para eles em suas jornadas. Uma empresa de telemarketing aumentou a satisfação e reduziu os afastamentos de seus funcionários utilizando aparelhos que lhes permitiam simular uma caminhada durante o atendimento, o que reduz os longos períodos que o trabalhador passa sentado.
“Em todo o mundo, vivemos um crescimento acelerado da população de trabalhadores idosos, bem como a rápida expansão de uma economia de ‘bicos’, com cada vez menos garantias de empregabilidade. Sem a proteção de um programa de saúde e bem-estar, os trabalhadores ficarão cada vez mais expostos”, alertou. “A adoção de programas como o de Saúde Total do Trabalhador e a busca de formas de acomodar novas tecnologias e a nova demografia do trabalho são alguns dos principais desafios dos Médicos do Trabalho para os próximos anos”.