Na manhã desta quinta-feira (16), o 17º Congresso Nacional da ANAMT recebeu o seminário “Ações Afirmativas para a Diversidade no Trabalho”, que debateu as conquistas e desafios para a inclusão no ambiente de trabalho, sobretudo para pessoas com deficiência. A atividade contou com a participação especial da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP). Ex-deputada federal, ela foi a relatora e autora do texto final da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, um marco legal para o país no assunto.
“A inclusão da pessoa com deficiência é importante porque foi justamente por meio do trabalho e do estudo que eu consegui alcançar novas perspectivas. Meu primeiro passo quando quebrei o pescoço foi buscar a faculdade que eu tinha cursado, já que percebi que a Psicologia não exigia que eu me movesse constantemente. E, como psicóloga, aprendi a ouvir os outros e redescobri minha vida”, explicou Mara Gabrilli.
A senadora também abordou os desafios para a formação educacional de pessoas com deficiência por conta da falta de acessibilidade, assim como o desafio dos setores de Recursos Humanos de receber e reconhecer estes indivíduos. Neste sentido, ela ressalta que a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência foi um grande passo para o país.
“Nosso desafio ao constituir essa política pública era quebrar um ciclo de invisibilidade. Até os anos 90, o Brasil não tinha nenhuma política para as pessoas com deficiência. Quem cumpria esse papel eram as ONGs, organizações de parentes e familiares”, relembra. “Quando me tornei deputada, em 2011, vi que havia um estatuto em discussão e criamos um grupo de trabalho para reescrevê-lo sob a luz da Convenção da ONU para Pessoas com Deficiência. E, mais importante, trabalhamos para que o nosso estatuto tivesse participação popular. Hoje, nossa lei é uma das melhores do mundo neste sentido e temos o peso de, ao exigir sua aplicação, reforçar que é uma legislação feita com o apoio da sociedade civil”.
Mara Gabrilli agradeceu à Dra. Daniela Bortman pela organização do seminário e o convite para participar dele. Daniela é médica especialista em Medicina do trabalho, gerente de Saúde Ocupacional da Bayer e presidente da Comissão Técnica de Inclusão e Diversidade da ANAMT.
“Eventos como esse nos ajudam a preparar os Médicos do Trabalho a se informar”, ressaltou Bortman. “Sem a informação correta, o especialista pode não ajudar ou até limitar o espaço de um público-alvo para inclusão no ambiente de trabalho”.
Neste sentido, a Dra. Ana Cláudia Fávero, Médica do Trabalho e secretária da Comissão Técnica de Inclusão e Diversidade da ANAMT, apresentou o Procedimento de Avaliação Clínica e Funcional da Pessoa com Deficiência desenvolvido pela Associação.
Ela levantou o seguinte questionamento: os Médicos do Trabalho estão preparados para avaliar uma pessoa com deficiência e sua aptidão ao trabalho? Ela reforçou a necessidade de escutar este indivíduo, já que o mero conhecimento da sua condição não é suficiente para fazer uma avaliação.
“Nosso documento é um guia para ajudar os profissionais de saúde neste sentido, não apenas os Médicos do Trabalho. A ação está aberta para contribuições e revisões e ressalta a necessidade de conhecer as necessidades, o histórico ocupacional e o que esta pessoa com deficiência almeja”, apontou.
Qualidade da demografia
O secretário-executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ e sócio-diretor da Txai Consultoria, Reinaldo Bulgarelli, abordou outros aspectos da inclusão, como a qualidade da demografia nas empresas. Ele ressaltou que o processo começa com uma reflexão da empresa e de sua liderança sobre onde estão os negros da nossa companhia, onde estão as mulheres, onde estão os jovens ou os mais idosos?
“A falta de diversidade no ambiente de trabalho somente será superada a partir da conjunção de políticas públicas e comprometimento do setor empresarial com a mudança. Sem isso, os números mostram um cenário alarmante”, apontou Bulgarelli. “No ritmo atual de mudança registrado nas empresas, a igualdade entre homens e mulheres seria alcançada apenas em 2085. Entre brancos e negros, esse número sobe para o ano 2141 e, para pessoas com deficiência, apenas daqui a 1,7 mil anos a equidade seria alcançada”.
Reinaldo ressaltou que foi para acelerar essa transformação que os fóruns de empresas para públicos-alvo de inclusão foram criados. Nos últimos anos, já foram realizados fóruns específicos para o público LGBTI+, mulheres, pessoas com deficiência e negros.
“Não se trata de um fórum para networking”, esclarece Bulgarelli. “Falamos em compromissos, agendas de trabalho para melhorar os indicadores em relação à qualidade da demografia na empresa e inclusão. Nos fóruns, são criadas ferramentas de gestão para conseguir avaliar e transformar, de forma prática, este cenário”.