Uma pesquisa com dados novos e mais precisos revela que as consequências adversas para a saúde decorrentes do uso de drogas são mais severas e generalizadas do que se pensava anteriormente. Globalmente, em torno de 35 milhões de pessoas sofrem de transtornos decorrentes do uso de drogas e necessitam de tratamento, de acordo com o mais recente Relatório Mundial sobre Drogas, divulgado nesta quarta-feira (26) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
As estimativas — referentes a 2017 — representam um aumento no número de indivíduos que sofrem de transtornos por uso de drogas. O crescimento foi atribuído a um melhor conhecimento sobre a dimensão do uso de drogas, a partir de novas pesquisas realizadas na Índia e na Nigéria, ambos entre os dez países mais populosos do mundo.
O relatório também estima o número de usuários de opioides em 53 milhões — 56% acima das estimativas para 2016. O documento aponta ainda que os opioides foram responsáveis por dois terços das 585 mil mortes de pessoas que faleceram como resultado do uso de drogas em 2017.
Globalmente, 11 milhões de pessoas injetaram drogas em 2017, dos quais 1,4 milhões vivem com HIV e 5,6 milhões, com hepatite C.
“As conclusões do Relatório Mundial sobre Drogas deste ano complicam ainda mais a situação global dos desafios das drogas, ressaltando a necessidade de uma cooperação internacional mais ampla para promover respostas equilibradas e integradas de saúde e justiça criminal à oferta e demanda”, disse Yury Fedotov, diretor-executivo do UNODC.
Aumento na gravidade e complexidade da situação mundial das drogas
Em 2017, estima-se que 271 milhões de pessoas — ou 5,5% da população mundial entre 15 e 64 anos — usaram drogas no ano anterior. Embora essa estimativa seja semelhante à de 2016, uma visão de longo prazo revela que o número de pessoas que usam drogas aumentou 30% na comparação com 2009. Apesar de esse aumento ser devido, em parte, a um crescimento de 10% da população mundial na faixa etária analisada, os dados agora mostram uma maior prevalência do uso de opioides na África, na Ásia, na Europa e na América do Norte e do uso de maconha na América do Norte, na América do Sul e na Ásia em relação a 2009.
A estimativa sobre a fabricação ilícita global de cocaína alcançou o recorde de 1.976 toneladas em 2017, um aumento de 25% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, a quantidade global de cocaína apreendida em 2017 aumentou 13%, chegando a 1.275 toneladas, a maior quantidade já registrada.
A crise de overdose relacionada ao consumo de opioides sintéticos na América do Norte também alcançou novos patamares em 2017, com mais de 47 mil mortes por overdose de opioides registradas nos Estados Unidos — um aumento de 13% em relação ao ano anterior — e 4 mil mortes relacionadas a opioides no Canadá — um aumento de 33% em relação a 2016.
O fentanil e seus análogos continuam sendo o principal problema da crise de opioides sintéticos na América do Norte, mas as regiões central, oeste e norte da África estão passando por uma crise de outro opioide sintético, o tramadol. As apreensões globais de tramadol saltaram de menos de 10 kg em 2010 para quase 9 toneladas em 2013 e atingiram o recorde de 125 toneladas em 2017.
A droga mais usada no mundo continua a ser a cannabis — cerca de 188 milhões de pessoas usaram essa droga em 2016.
O relatório mostra que uma área em que a comunidade internacional obteve um certo grau de sucesso foi a abordagem das Novas Substâncias Psicoativas (NSP) — o que é evidenciado por um declínio no número de NSPs identificado e relatado pela primeira vez ao UNODC.
As NSPs não foram adotadas pelo mercado na proporção que se temia há alguns anos, e a comunidade internacional reagiu de maneira oportuna para avaliar os danos causados pelas NSPs e incluir, nas listas das Convenções Internacionais, aquelas que poderiam passar por um controle internacional.
Prevenção e tratamento insuficientes
A prevenção e o tratamento continuam insuficientes em muitas partes do mundo. Por ano, apenas uma em cada sete pessoas com transtornos decorrentes do uso indevido de drogas recebe tratamento.
O dado impressiona particularmente no ambiente prisional. O relatório deste ano traz uma análise aprofundada do uso de drogas e suas conseqüências adversas para a saúde em ambientes prisionais. A pesquisa sugere que a prevalência de infecções, como HIV, hepatite C e tuberculose ativa, e os riscos relacionados a elas são desproporcionalmente maiores entre as populações prisionais do que na população em geral — em particular, entre aqueles que injetam drogas na prisão.
Cinquenta e seis países relataram que forneceram terapia de substituição de opioides em pelo menos uma prisão em 2017, enquanto 46 países relataram não ter essa opção de tratamento em ambientes prisionais. Os programas de distribuição de seringas e agulhas estão disponíveis em proporção bem menor nos sistemas prisionais: 11 países relataram sua disponibilidade em pelo menos uma prisão, mas 83 países confirmaram não possuir tais programas.
O relatório mostra que as intervenções efetivas de tratamento, baseadas em evidências científicas e alinhadas com as obrigações internacionais de direitos humanos, não estão tão disponíveis ou acessíveis como precisam estar. A publicação aponta que os governos nacionais e a comunidade internacional precisam intensificar as intervenções para resolver essa lacuna.
O Relatório Mundial sobre Drogas de 2019 oferece uma visão global sobre a oferta e a demanda de opiáceos, cocaína, cannabis, estimulantes do tipo anfetamina e Novas Substâncias Psicoativas (NSP), bem como sobre o seu impacto na saúde. O documento destaca, por meio de pesquisa aprimorada e dados mais precisos, que os efeitos adversos para a saúde devido ao uso de drogas são mais generalizados do que se pensava anteriormente.
Acesse o relatório na íntegra em: https://wdr.unodc.org/wdr2019/
(Fonte: ONU)