Problemas de saúde mental têm se tornado cada vez mais comuns em todo o mundo. A ansiedade, por exemplo, atinge mais de 260 milhões de pessoas. Aliás, o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E não para por aí. Novos dados mostram que 86% dos brasileiros sofrem com algum transtorno mental, como ansiedade e depressão.
O levantamento feito pela Vittude, plataforma on-line voltada para a saúde mental, aponta que 37% das pessoas estão com stress extremamente severo, enquanto 59% se encontram em estado extremamente severo de depressão. A ansiedade extremamente severa atinge níveis ainda mais altos: 63%.
De acordo com a psicóloga Heloísa Caiuby, esses números são reflexo da realidade que estamos vivendo. “O mundo está muito difícil, rápido e cheio de mudanças. Muitas vezes não temos tempo sequer de assimilar uma mudança e já vem outra. Isso causa uma angústia tremenda porque as pessoas não conseguem dar conta”, explica.
Os dados coletados pela plataforma consideraram sensações e sentimentos vividos nos setes dias que antecederam a pesquisa. O levantamento considerou a resposta de 492.790 pessoas, entre 4 de outubro de 2016 e 23 de abril de 2019.
Ambiente de trabalho
Algumas das pressões mais fortes podem vir do ambiente de trabalho: 20% dos funcionários ativos estão trabalhando sob forte pressão emocional, o que compromete a saúde física e psíquica, resultando em queda na produtividade, absenteísmo (faltas) e maiores taxas de contratação e demissão (troca de funcionário). Além disso, cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com os efeitos do stress — um dos primeiros sinais da síndrome de burnout —, segundo a International Stress Management Association (Isma-BR).
Outros dados recentes mostram que 49% dos trabalhadores no Brasil já tiveram crises de ansiedade, enquanto 44% dizem ter sofrido com o esgotamento mental devido ao stress profissional (burnout), segundo pesquisa realizada pela Talenses, uma empresa de recrutamento.
“Ser pressionada para apresentar resultados e ser cada vez mais eficiente em um ambiente em que a pressão é forte e a competitividade é muito grande leva uma pessoa a duvidar de si mesma e de sua capacidade de alcançar os resultados exigidos. Isso gera frustração, que pode criar um ciclo vicioso a cada nova demanda e isso vai se repetindo até as pessoas pifarem”, comenta Heloísa.
Como reduzir?
De acordo com a especialista, é possível reduzir esses números se empresa e funcionário trabalharem juntos para tornar o ambiente de trabalho menos tóxico. No lado da empresa, por exemplo, é preciso criar políticas que visem ao bem-estar do funcionário, garantindo cargas de trabalho compatíveis com a capacidade de realização das pessoas, oferecendo intervalos de descanso e oportunidades de lazer em algum momento do dia ou da semana, disponibilizando aconselhamento para que o funcionário tenha a quem recorrer em momentos de necessidade e ofertando práticas de saúde que vão além dos exercícios laborais.
Já o funcionário deve avaliar sua postura dentro da empresa, especialmente aquele que ocupa cargo de liderança. Muitas vezes, a empresa tem um ambiente saudável, mas um gestor ou departamento prejudica essa dinâmica. Ou seja, é necessário eliminar os relacionamentos abusivos — caracterizado pelo famoso “ou faz ou vai para a rua” —, estimular feedbacks que corrijam falhas ao mesmo tempo em que estimulem a autoconfiança e melhorem o desempenho, além de delegar tarefas quando, por algum motivo, o funcionário não está sendo capaz de administrar uma atividade por conta própria.
Transtornos mentais
Os transtornos mentais mais comuns são depressão e ansiedade. Apesar de serem problemas de saúde mental altamente divulgados, muitas pessoas ainda não entendem completamente os sintomas e as manifestações que caracterizam cada um deles.
De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão é caracterizada por sintomas como: tristeza profunda, falta de ânimo, pessimismo e baixa autoestima. O transtorno ainda pode “tirar” o prazer de atividades que antes eram prazerosas, provocar oscilações de humor e levar a pensamentos suicidas. “Para quem tem depressão, é tudo ou nada. Tudo é horroroso e nada está bom”, explica Heloísa. Ainda há manifestações físicas, como dor de cabeça incessante, insônia frequente e perda de apetite, por exemplo.
Já o transtorno de ansiedade é caracterizado por preocupações ou medos exagerados — o que impede a pessoa de relaxar — e sensação constante de que algo ruim vai acontecer. O problema também traz muitas manifestações físicas, incluindo sudorese, palpitação, insônia, tremores, boca seca, dor de cabeça e tonturas, por exemplo.
Segundo Heloísa, em ambos os transtornos é preciso estar atento para a duração e intensidade dos sintomas vivenciados. “Quando você está se sentido triste ou frustrado e passear no parque é suficiente para te fazer melhorar, é apenas um episódio. Mas quando os sentimentos duram muito tempo e são intensos a ponto de piorar a qualidade de vida, prejudicar o convívio social e afetar a saúde física, é um sinal amarelo”, explica a psicóloga.
Ajuda psicológica
Para Heloísa, no momento em que a pessoa sente que precisa de ajuda já é um sinal de que ela não está conseguindo equilibrar as situações do dia a dia sozinha. Uma vez que isso acontece, é preciso procurar ajuda de um profissional de saúde capacitado. Mas ela ressalta que, apesar de reconhecerem a necessidade de ajuda, algumas pessoas acabam recorrendo a tratamentos alternativos sem comprovação científica em vez de ir ao psicólogo. Isso pode ajudar temporariamente, mas, no geral, prejudica o indivíduo e pode até mesmo agravar a situação.
(Fonte: Veja)