Estudo divulgado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia – ISC/UFBA mostra que a taxa de suicídios é maior entre trabalhadores rurais. O levantamento procurou analisar a correlação dessa taxa com o tipo de trabalho exercido e joga luz sobre os impactos do trabalho sobre a saúde mental. A discussão ganha vulto no mês dedicado à prevenção do suicídio no País, o Setembro Amarelo.
A pesquisa analisou dados de 2007 a 2015, quando foram registrados 77.373 suicídios no País. No primeiro ano, a mortalidade entre os agropecuaristas foi 16,6 por 100 mil habitantes. Em 2015, esse índice saltou para 20,5, o que equivale ao dobro da média para todos os trabalhadores em geral. Os pesquisadores analisaram registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD entre pessoas que exercem certas ocupações.
Fatores como baixa renda, instabilidade no emprego, pressão por produtividade, o acesso limitado à educação e aos serviços de saúde de qualidade, podem ser algumas das hipóteses para o maior risco de suicídios entre os trabalhadores da agropecuária. Ainda de acordo com os pesquisadores, vários estudos também sugerem que a exposição a substâncias químicas, presentes nos agrotóxicos, pode ser uma causa importante.
“Muitas dessas substâncias podem levar à depressão, ansiedade, dentre outros transtornos mentais, ou ainda doenças neurodegenerativas, que podem contribuir para o suicídio” destaca a pesquisadora Milena Cordeiro, coordenadora do estudo.
Os trabalhadores da indústria registraram a segunda maior taxa de suicídio no País, a que mais cresceu no período. Em 2007, a taxa entre os industriários foi de 10,8 por 100 mil habitantes, passando para 14,2 em 2015. Isso equivale a um crescimento de 30% na mortalidade por suicídio.
Servidores de instituições militares, a exemplo das Forças Armadas, bombeiros e policiais, também apresentaram um risco de suicídio elevado. No entanto, o número absoluto de casos no período do estudo, menos de 100 entre os homens e de 30 em mulheres, limita as conclusões. Para os pesquisadores, são necessários estudos específicos mais adequados às características desses servidores.
Subgrupos ocupacionais como os vendedores e trabalhadores dos serviços de proteção e segurança, assim como empregadas domésticas, também tiveram estimativas elevadas.
Para a professora Vilma Santana, além de traçar um panorama sobre a mortalidade por suicídio no país, as descobertas do estudo servem de alerta para a incorporação das ações de prevenção no ambiente de trabalho por meio de programas de promoção da saúde e qualidade de vida no âmbito das empresas e instituições. “A desestigmatização das doenças mentais e o fortalecimento de redes de apoio favorecem o acolhimento e propiciam o correto encaminhamento”, conclui.
(Fonte: Sinait)