Psicólogas explicam o que há por trás da depressão em jogadores de futebol

Data: 6 de novembro

Ainda era março, mas consta que fazia frio em Montevidéu na manhã em que o corpo de Abdón Porte foi encontrado no meio do campo do Nacional. Era 1918, e o então ídolo do time havia se suicidado, com um tiro no peito, bem no círculo central do gramado. Tudo porque não suportou sua queda de rendimento em campo e a consequente ida à reserva. O suicídio de Porte talvez não tenha sido o primeiro da história do futebol. Mas mostra que, desde os primórdios do esporte, as emoções e pressões que o envolvem já mexiam com o psicológico dos jogadores. Caso jogasse hoje, é possível que Porte fizesse parte dos 38% deles que apresentam sintomas de depressão ou ansiedade. Esse número veio à tona em uma pesquisa revelada recentemente pelo FIFPro, o sindicato internacional dos atletas.

O dado chamou a atenção por indicar que o problema é muito mais comum entre jogadores do que se poderia supor. E também por sugerir que ele vem aumentando: na pesquisa anterior feita pela FIFPro, a parcela de jogadores que disseram estar deprimidos ou ansiosos era de 26%.

Psicóloga diz que exposição atrapalha

Desde os anos 90 a saúde mental dos atletas vem ganhando mais atenção. Diversos clubes e a seleção brasileira têm, ou já tiveram, psicólogos para atender o elenco, seja de maneira fixa, seja prestando auxílio quando há necessidade. Referência em psicologia do esporte no Brasil, a também professora e pesquisadora Katia Rubio diz não se surpreender com os resultados da pesquisa do FIFPro. “Não fico surpresa, ainda mais com a total falta de privacidade dos jogadores hoje”, diz a psicóloga. Para ela, essa separação cada vez menor entre a figura pública do jogador e sua vida privada é mais um fator a pressioná-lo. “Para se reorganizar emocionalmente, você precisa de espaço, de um tempo para você”, explica Katia, referindo-se a grande exposição dos atletas. “Isso (a exposição) cria uma versão ficcional da vida do jogador”, completa ela.

Além dessa questão, Kátia cita outros fatores que podem contribuir para que o jogador fique deprimido. “Más condições de trabalho, atraso de salário, calendário mal feito, falta de estímulo para trabalhar”, diz a psicóloga. Para ela, o trabalho psicológico que muitos clubes passaram a oferecer é tão importante quanto o treinamento físico dos atletas. “Até porque o lado psicológico afeta o físico. O jogador pode estar deprimido e ser taxado de desmotivado, de amarelão”.

Atualmente prestando serviços para o Sport, Suzy Fleury é outra renomada especialista da área. Ela conta que já se deparou com jogadores sofrendo de depressão profunda, e que esses casos não devem ser confundidos com simplesmente um momento de tristeza. Suzy cita dificuldades em se adaptar a um país ou clube, e lesões, como outros fatores que podem deprimir um atleta. “Além disso, não podemos esquecer que ele (o jogador) pode estar passando por problemas em casa. Tive um atleta que estava com o pai na UTI e ele levava isso para dentro de campo”, conta a especialista.

Contusão levou Pedrinho à depressão profunda

E, se há um ex-jogador no futebol brasileiro que sabe como as contusões podem mexer com a cabeça, ele é Pedrinho. Ele conta que, na época de Palmeiras, fez terapia e tomou remédios pesados para depressão. “Não tem a ver só com tristeza. é uma coisa que entra na sua cabeça de um jeito…”, diz o ex-meia sobre a depressão. Ele agradece a Vanderlei Luxemburgo por ter notado que ele precisava de ajuda, e diz acreditar que muitos jogadores nem sequer sabem o que é depressão.

“Eu mesmo achava isso (depressão) frescura, não compreendia o que era”, diz Pedrinho.”O que mais me deixava triste era o pessoal dizendo que eu não era sério, que era ´chinelinho`, e não fazia ideia do que eu estava passando”, revela o ex-jogador.

(Fonte: UOL)

Por |2015-11-09T10:13:42-02:009 de novembro de 2015|Notícias|Comentários desativados em Psicólogas explicam o que há por trás da depressão em jogadores de futebol