As mulheres brasileiras que estão no mercado de trabalho têm formação maior, mas trabalham menos horas no total e recebem menos do que os homens no final do mês. Os profissionais do sexo masculino, por sua vez, são maioria na população de 25 a 49 anos que tem emprego fixo e ganham, em média, mais pela hora trabalhada: R$ 14,2 contra R$ 13 delas. O salário médio entre todos os postos de trabalho analisados é de R$ 2.579 para os homens e R$ 2.050 para as mulheres.
Os dados fazem parte do estudo “Diferença do rendimento do trabalho de mulheres e homens nos grupos ocupacionais”, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. A pesquisa aponta que a discrepância salarial entre sexos segue existindo no Brasil. Mas há avanços. A diferença paga por hora trabalhada é a menor desde 2012: no ano passado, o valor do rendimento da mulher representava 91,5% daquele recebido pelos homens – percentual que já foi de 87,9% em 2013.
E o nível de instrução delas é maior. Na população ocupada na faixa etária analisada, 22,8% das mulheres têm Ensino Superior completo, enquanto o percentual é de 18,4% entre os homens. A formação tem grande importância na definição do salário, mas o sexo ainda demonstra ser um fator determinante.
O estudo do IBGE mostra que, em 2018, o rendimento médio mais baixo, segundo o nível de instrução, era o de mulheres com Ensino Fundamental incompleto (R$ 880). O mais elevado era recebido por homens de nível superior completo (R$ 5.928).
O número médio de horas trabalhadas por semana, porém, também é maior entre eles. A jornada padrão feminina tem 4,8 horas a menos do que a masculina: em média, o homem completou 42,7 horas semanais em 2018, enquanto a mulher trabalhou 37,9 horas. O cálculo das horas trabalhadas exclui os períodos dedicados a afazeres domésticos e cuidados de pessoas.
Alguns dos casos de maior diferença salarial estão nos profissionais de ciências e intelectuais, operários e artesãos, vendedores de comércio e mercados. Já os setores com maior igualdade salarial são as Forças Armadas, polícia e bombeiros – em que praticamente não há variação entre os salários de homens e mulheres –, além de trabalhadores qualificados das áreas agropecuária, florestal, da caça e da pesca.
Em Canoas, Taline Teixeira, gerente de Engenharia de Processos da multinacional AGCO – fabricante de máquinas agrícolas presente em 150 países – ilustra bem essa busca pela igualdade salarial e de oportunidades no mercado de trabalho. Ela começou na empresa como estagiária em 2008. Na época, era uma das três mulheres entre aproximadamente 100 homens no setor em que trabalhava.
– Logo em seguida, eu fui efetivada como assistente, depois me formei e fui promovida a engenheira de melhoria contínua em 2013. Em 2014, virei líder de projetos, depois supervisora em 2016 e hoje sou gerente de todo um setor. Felizmente, nunca senti o gênero como uma influência na minha carreira, sempre fui avaliada pela performance – explica Taline.
A gerente de RH Clarissa Daroit destaca a importância de se buscar um equilíbrio entre os sexos sem jamais diferenciar os salários dos profissionais femininos e masculinos.
– Só há inovação com diversidade. A empresa tem de entender, valorizar e reconhecer a importância dos diferentes perfis. Ter um equilíbrio entre homens e mulheres vai tornar o negócio muito mais competitivo – garante ela.
A realidade, porém, não é sempre essa. Um levantamento feito pela empresa especializada em assuntos de mercado Empresômetro aponta que foram extintos quase 3 milhões de postos de trabalho para mulheres no Brasil desde 2011. O índice percentual de ocupação formal feminina até cresceu – 3% nesses oito anos –, mas o total de mulheres empregadas caiu de 14,3 milhões para 11,5 milhões.