Em cinco anos, pelo menos, 5.188 policiais militares no Ceará foram afastados das suas funções devido à licenças médicas para tratamentos psiquiátricos. O número mostra que, em média, de 2015 até o último mês de agosto de 2019, a cada ano, são mil afastamentos, que além de revelarem a continuidade dos problemas de saúde mental da categoria, indicam a como consequência um déficit de policiamento nas ruas.
Os números de licenças médicas são contabilizados diariamente pela Associação de Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (Aspramece), a partir da consulta aos boletins internos da PMCE.
No ano de 2015 foram 1.760; 40, em 2016; 1.787, em 2017; 761, em 2018; e nos primeiros oito meses deste ano, 840. Conforme a Aspramece, a baixa significativa em 2016 não é realidade, e sim aconteceu porque durante maior parte do ano os registros foram publicados de forma velada.
Sob a condição de não ser identificado, um soldado, atualmente reformado, contou ter precisado entrar de licença para tratamento psiquiátrico diversas vezes, sem sequer ter recebido apoio da corporação. O militar recorda que sofreu perseguição dos seus superiores e teve que ouvir que ele “só estava daquele jeito para enrolar e faltar o serviço”.
“Minha vida era normal e depois fiquei estressado com o meu serviço. Sofri muita humilhação. Não era respeitado. Nos consultórios eu comecei a ouvir que eu tinha mania de perseguição. Sempre achava que tinha alguém atrás de mim querendo me matar. Com um tempo eu admiti a verdade. É um serviço muito estressante, muito desgastante e com muita preocupação, inclusive com a nossa própria vida, sem saber quando o bandido que a gente prendeu ia ser solto e se ia atrás da gente”, disse o PM, posteriormente diagnosticado com esquizofrenia.
O presidente da Aspramece, sargento Pedro Queiroz, corrobora que a “atividade do policial militar é uma das mais preocupantes, porque o tempo inteiro ele coloca a sua vida em risco e podendo usar arma de fogo contra a figura humana”. De acordo com Queiroz, a Associação pede, há 14 anos, a instalação de um equipamento biopsicossocial a fim de acompanhar os PMs a saúde mental debilitada.
“Muitos policiais começam com as drogas lícitas e depois acabam nas ilícitas. Nós não temos um equipamento para tratamento e esses policiais acabam no atendimento ambulatorial. Essa ausência do Estado em tratar seus policiais faz com que aumente o número de servidores com doença mental e isso mexe diretamente com a Segurança Pública. O policial vai se vendo em uma situação de abandono e chega até a optar pelo suicídio. Já foram sete suicídios em 2019”, afirmou o presidente da Associação.
Atendimentos
Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a Assessoria de Assistência Biopsicossocial (Abips) realiza o trabalho de acolhimento de profissionais de segurança, que necessitam de atendimentos especializados de saúde. A Pasta informou que a Abips possui efetivo composto por psicólogos e assistentes sociais e, para este segundo semestre, estão previstas atuações de psiquiatras e fisioterapeutas.
A SSPDS pontuou que o Abips realizou, no primeiro semestre de 2019, 861 atendimentos psicológicos e 130 atendimentos sociais aos policiais civis e militares, peritos forenses e bombeiros militares.
Ainda de acordo com a Secretaria, vem sendo desenvolvido um projeto “com a criação grupos e de sensibilização para detectar o uso de substâncias psicoativas entre os efetivos das corporações, a iniciativa visa avaliar a saúde física e psíquica dos agentes, na busca de cuidar dos que estejam adoecidos e prevenir o surgimento de novos adoecimentos”.
(Fonte: G1)