As Novas Tecnologias, A Revolução Industrial e a Nanotecnologia são apenas algumas das novas tecnologias capazes de revolucionar a sociedade, mudando a forma como as pessoas veem e interagem com o mundo.
No trabalho, as novas tecnologias já alteraram as formas de contratação, substituindo muitas atividades que antes eram manuais ou repetitivas, por automatização, e surgem como uma ameaça para o desaparecimento de várias funções, alterando também toda a organização do trabalho e de aspectos da segurança e saúde do trabalhador.
Para explicar como o trabalhador está vulnerável a essas novas tecnologias, o tecnologista da Fundacentro, Luiz Renato Balbao Andrade destacou a necessidade de se expandir os regulamentos de SST, incluir novas estruturas organizacionais e práticas de emprego, que sejam capazes de lidar com todo esse novo modelo de organização do trabalho.
De acordo com o tecnologista, as mudanças sociais e no mundo do trabalho são inevitáveis, mas o foco deve estar na saúde do trabalhador, nas formas de prevenção, e no direito de saber dos consumidores e trabalhadores.
Um aspecto colocado por Andrade refere-se à rotulagem de produtos nanotecnológicos e que ainda não trazem informações técnicas sobre composição e riscos, excluindo a sociedade e os trabalhadores do direito de saber. “A Fundacentro, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Organização Mundial da Saúde (OMS), a agência americana (NIOSH), o instituto francês (INRST) e outras instituições estão envolvidas com a nanotecnologia e novas tecnologias e ressaltam a preocupação de interação das nanopartículas com o corpo humano”.
Algumas medidas de prevenção de riscos foram apontadas pelo engenheiro, tais como, a adoção do Princípio da Precaução, o uso de ferramentas de Control Banding (proposta de sistema de gestão e de estratégia de prevenção que auxilia gestores de pequenas e médias empresas na realização da avaliação dos riscos de forma qualitativa) e a participação dos trabalhadores.
Em outra palestra apresentada pelo tecnologista, José Renato Schmidt, fica clara a importância de envolver o trabalhador nas discussões sobre nanotecnologia e outras tecnologias. Estima-se que 6 milhões de trabalhadores estarão expostos aos nanomateriais em 2020. De acordo com estudos levantados pelo doutorando, no período de 2000 a 2015 houve um aumento expressivo de 154% no número de trabalhos científicos divulgados.
Para falar sobre o futuro do trabalho, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) que celebra em 2019, cem anos de existência, lançou o documento “Iniciativas do Centenário sobre o Futuro do Trabalho”, que terá como finalidade a elaboração de respostas eficazes que levem à justiça social. Ao todo, são 7 Iniciativas e o Brasil já participou do primeiro diálogo nacional em 2016, cujo tema foi sobre a “Organização do trabalho e da produção”. Leia mais.
Nanotecnologia no corpo humano
As mudanças decorrentes das tecnologias não ocorrem somente na organização do trabalho e na sociedade, mas atingem partes do corpo humano, podendo causar danos ao DNA, alteração de proteínas, lipídios e biomoléculas.
Maria de Fátima Viegas, tecnologista da Fundacentro e especialista em Nanotoxicologia (sub-especialidade da Toxicologia) destaca que o trabalhador pode ser contaminado pelas vias respiratórias ao inalar substâncias que contenham nanopartículas.
Em uma pesquisa realizada pela tecnologista foram encontrados cerca de 900 artigos sobre potenciais vias de contaminação. Além das vias respiratórias, os estudos mostraram que a placenta e o leite materno também podem ser fontes de contaminação. Contudo, Viegas lembra que embora haja a confirmação para essas vias de contaminação, os estudos estão em fase experimental e foram conduzidos em animais.
Um caso que vem chamando a atenção de especialistas para os perigos das nanopartículas ocorreu em abril de 2008, quando sete funcionárias de uma empresa chinesa, morreram por contaminação aos produtos nanotecnológicos, sendo considerado o primeiro caso ocupacional de morte por nanopartículas encontradas em tintas.
Mas Viegas destaca que ainda não há teste clínico para mensurar a exposição aos nanotubos de carbono ou nanopartículas. “Precisamos do respaldo dos empregadores para auxiliar na identificação e informação dos riscos”, observa.
Como sugestão, a tecnologista recomenda a leitura do guia da OMS – WHO Guidelines from potential risks on protecting workers of manufactured nanomaterials, lançado em 2017, no idioma inglês, que contém recomendações para melhor proteger os trabalhadores dos riscos nanotecnológicos e auxiliar os empregadores em assuntos que envolvem a Higiene Ocupacional.
O doutorando da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP), Jorge Marques Pontes, apresentou o tema “Desafios à saúde e segurança do trabalho (SST) durante a implantação das novas tecnologias no Brasil”.
Pontes fez uma breve contextualização histórico-social para mostrar como o trabalho feminino, o surgimento do salário mínimo, o movimento sindical foram fatores determinantes para as mudanças sociais, até a transição tecnológica.
Mas quais os reais desafios para a saúde do trabalhador frente às novas tecnologias? O aluno da FSP elenca alguns desafios que incluem melhoria na forma de comunicar os riscos aos trabalhadores e à sociedade; a proteção da saúde mental dos trabalhadores; ação preventiva conjunta, onde haja a participação do Estado e da sociedade e melhor compreensão sobre as nanopartículas engenheiradas, usadas para fins comerciais e encontradas no meio ambiente.
Em pesquisa conduzida por Pontes, um dos maiores desafios da saúde ocupacional é como enfrentar os riscos psicossociais que acometem diversos segmentos do trabalho. Em um estudo sobre Depressão nas Américas, conduzido pela Organização Mundial da Saúde (2017), coloca o Brasil na posição de número 2, com quase 12 milhões de casos por depressão. Os Estados Unidos aparecem em 1º lugar; México em 3º; Colômbia em 4º e Argentina em 5º.
As palestras do período da tarde da quarta (27) foram coordenadas pela pesquisadora, Arline Sydneia Abel Arcuri versou sobre “Riscos das tecnologias emergentes e suas convergências para a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras”.
Na quinta (28), a pesquisadora da Fundacentro, Elisa Kayo Shibuya coordenou a mesa sobre “Convergência tecnológica e controle social”.
O último dia (29) do XVI Seminário Internacional Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (XVI Seminanosoma) e o I Seminário Internacional de Nanotecnologia, Desenvolvimento e Trabalho 4.0 (I Senano), teve as palestras dos tecnologistas da Fundacentro, Clóvis Eduardo Meirelles, cujo tema foi sobre “Usos de novas tecnologias no meio rural”, e Valéria Ramos Soares Pinto sobre o tema “Nanoencapsulamento – características e possíveis impactos na saúde”.
Os temas foram abordados durante a XVI edição do Seminário Internacional Nanotecnologia, Sociedade e Meio ambiente (Seminanosoma) e do I Seminário Internacional de Nanotecnologia, Desenvolvimento e Trabalho 4.0 (I Senano), realizado de 26 a 29 de novembro de 2019, na sede da Procuradoria Regional do Trabalho, em São Paulo-SP.
(Fonte: Fundacentro)