Dr. Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP, fala sobre os desdobramentos do desabastecimento de carbonato de lítio cloridrato de imipramina, usado para o tratamento de pacientes com transtornos mentais, para a saúde dessas pessoas e o impacto na atividade laboral das mesmas.
A ANAMT divulgou uma nota em apoio à Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), esses pacientes e seus familiares, que pode ser lida aqui. Confira abaixo a entrevista:
Pacientes com quais tipos de transtornos mentais fazem uso desse medicamento?
O carbonato de lítio é o único medicamento da classe dos estabilizadores de humor que tem sua segurança e eficácia comprovadas. Ele é indicado para pacientes com transtorno afetivo bipolar e para o tratamento de transtornos depressivos graves.
Quais são as principais consequências da falta desses medicamentos para a saúde dessas pessoas? E para o sistema de saúde como um todo?
A interrupção do uso de qualquer medicamento psiquiátrico pode acarretar no agravamento dos sintomas e, consequentemente, do quadro como um todo. Com o lítio e a imipramina, não é diferente.
As medicações não podem ser alteradas sem que haja risco de alterações do quadro clínico, uma vez que toda prescrição implica em algum risco. Em casos mais graves, podemos enfrentar um consequente aumento do número de casos de suicídio no Brasil, visto que o lítio é considerada uma das substâncias eficazes para o tratamento da ideação suicida.
É importante destacar que vivemos hoje um cenário de escassez de leitos, o que torna a situação ainda mais complicada.
Que impactos a falta desse medicamento pode ter para os trabalhadores que fazem uso?
Considerando que pode haver um agravamento dos sintomas, o absenteísmo é uma das consequências para os trabalhadores. Além disso, o afastamento do trabalho também pode vir a ocorrer, especialmente em casos onde a atividade laboral do paciente fica prejudicada com a intensificação das queixas relativas à patologia.
O que motivou esse desabastecimento?
Essa é uma questão que precisa ser verificada com os laboratórios que comercializam o carbonato de lítio e a imipramina no Brasil.
Há quanto tempo foi constatado esse desabastecimento?
A ABP tem recebido queixas de médicos, pacientes e da população em geral sobre a falta do carbonato de lítio nas farmácias por todo o Brasil. Há alguns meses estamos acompanhando o desabastecimento gradual, que atingiu seu momento mais crítico recentemente, ao início de março.
Podemos incluir na lista do desabastecimento, além da imipramina e do lítio, o antietanol. Acabamos de receber a notícia da sua suspensão, mas um medicamento a ser descontinuado, sem ter substituto no mercado.
O que precisa ser feito para reverter esse quadro?
Precisamos cobrar das autoridades competentes uma rápida resposta e, principalmente, estratégias para a regularização do abastecimento dessas substâncias junto às farmácias de todo o país. A ABP já contatou o Conselho Federal de Medicina – CFM e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, cobrando um posicionamento sobre a situação e estratégias para enfrentamento do problema.
A ABP teve algum retorno de diálogo em relação ao tema depois que a nota foi lançada?
Recebemos importante apoio da sociedade como um todo e da imprensa em relação à nota publicada. Pacientes se manifestaram ressaltando a dificuldade em encontrar os medicamentos citados e a ABP recebeu contato de importantes veículos de comunicação da imprensa para dar voz ao tema e cobrar publicamente respostas dos órgãos competentes.