A Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO), da Fundacentro, traz mais uma publicação do Dossiê “A pandemia da Covid-19 e a Saúde do Trabalhador”: “O futuro do trabalho após a COVID-19: o papel incerto do teletrabalho no domicílio”. O objetivo do ensaio é “refletir sobre o significado, a magnitude e as tendências do teletrabalho no domicílio, antes e durante a pandemia, enfatizando seus potenciais efeitos na saúde e no bem-estar dos trabalhadores”.
Para fazer essa reflexão, o ensaio adota a definição da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de teletrabalho no domicílio (telework from home), que abrange o trabalho realizado em casa por meio de recursos eletrônicos. Também apresenta a definição brasileira de teletrabalho, dada pela Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017: “[…] a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”.
O texto aponta ainda como tem se dado a discussão de teletrabalho em diferentes países da América Latina e na União Europeia. A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, por exemplo, destaca “possíveis riscos para a saúde associados à frequente digitação, aumentando a exposição a riscos psicossociais (estresse) e ergonômicos (distúrbios musculoesqueléticos)”.
Os autores ainda listam, a partir da literatura pesquisada, os prós e os contras do teletrabalho no domicílio antes da pandemia. Entre os aspectos positivos estão maior flexibilidade e autonomia, aumento da produtividade e redução de deslocamentos. Já em relação aos negativos, entre outros pontos, estão o aumento da jornada de trabalho, a dificuldade em separar trabalho da vida pessoal, o presenteísmo (trabalhar com problemas de saúde) e a transferência de custos para o trabalhador, como energia elétrica e Internet.
Com a pandemia de Covid-19, muitos trabalhadores passaram a trabalhar em domicílio. Houve um aumento de 324% no teletrabalho entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020 na América Latina, segundo um estudo realizado na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México.
“Uma revisão preliminar sobre os efeitos na saúde causados pela incorporação massiva ao teletrabalho aponta o aumento da frequência de lesões associadas a acidentes domésticos (por queda, escorregão, pancada, incêndio etc.), distúrbios musculoesqueléticos associados ao trabalho no computador, transtornos mentais associados ao estresse e a hábitos como dieta, exercícios físicos, sono ou vícios”, afirmam os autores do ensaio.
Por fim, refletem sobre o futuro do trabalho no domicílio, com a hipótese de que “uma parte substancial do teletrabalho continuará mesmo com o fim da pandemia”. Os pesquisadores apontam os limites do modelo, a necessidade de se estudar os efeitos na saúde dessa modalidade de trabalho e de se realizar monitoramentos por meio de inquéritos propostos pela OIT.
Leia o artigo – “O futuro do trabalho após a COVID-19: o papel incerto do teletrabalho no domicílio”.
Fonte: Fundacentro